terça-feira, 30 de setembro de 2014

#17 - SEGREDO, Maria Teresa Horta

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o 
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu 
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

domingo, 28 de setembro de 2014

#16 - "Olhos graciosos", Francisco Rodrigues Lobo

Estava Lereno enleado com seus cuidados junto duma fonte, quando «ouviu grande alvoroço e festa das serranas, que vinham buscar água à fonte e traziam no meio um vaqueiro ancião com ua rabeca, a cujo som elas em gracioso baile cantavam o seguinte:

Olhos graciosos
de tão boa estreia
não nos há na vila
como nesta aldeia.

Vale mais o desdém
da humilde serrana,
que a vista que engana,
olhos que não vêem.
Não cuide ninguém
que há por esta serra
coração sem guerra
nem serrana feia;
não nas há na vila
como nesta aldeia.

Se os cabelos solta
Lianor ao vento,
com seu movimento,
a touca revolta;
faz ao sol dar a volta
com desejo e gosto,
inda que do rosto
seus raios receia;
não nos há na vila
como nesta aldeia.

A seda custosa
fará mais louçã,
mas não faz a lã
ser menos formosa;
como a bela rosa,
tem preço dobrado
quando, no cerrado,
de espinhos se arreia;
tais são as serranas
desta nossa aldeia.

Chegaram ao pé da fonte com esta alegria e saudaram ao Peregrino que, com inveja daquela liberdade, as estava olhando...»