segunda-feira, 31 de outubro de 2016

#55 - «Tão firmes são as suas ancas,» poema sânscrito anónimo

Tão firmes são as suas ancas,
de tão suave interior,
que não há no mundo imagens
para dizê-las melhor.


(versão de Jorge de Sena)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

#54 - DESNUDECES, Mario Benedetti

Desnuda una mujer vale la pena
cuando la contemplamos a distancia
porque después / si estamos sobre ella
sólo la vemos con la boca ansiosa

una mujer desnuda es un silencio
que no admite pudor ni violaciones
un silencio a menudo tembloroso
de tanto amor y tanta profecia

una mujer desnuda tiene normas
puede dejarse amar con toda el alma
con todo el cuerpo a veces / pero nunca
con el arte de besos fariseos

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

#53 - "Ao ver a sua boca ao pé da minha boca,", Amaru

Ao ver a sua boca ao pé da minha boca,
desviei o olhar. E as mãos pus nos ouvidos,
quando as palavras dele retiniam.
Também escondi com as mãos o suor de enleio
que a fronte me perlava. Tentei tudo.
Mas que fazer, quando senti que as vestes
por si caíam pelo meu corpo abaixo?


(versão de Jorge de Sena)

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

#52 - MISTERIO GOZOSO, Cecília Quílez

Perdóname labio porque no te pertenezco,
esta plegaria la dicta su lugar hueco.
Mis manos me llevan a sitios prohibidos,
enredando las sábanas, pensándote a solas
como un perro lazarillo bien adiestrado.

Porque es tan casto este ardor
que mi boca peca de ser aún doncella
y llaga mi lengua cada vez que te besa.
Ah, la hiel de tu silencio distante e indefinido
me ha convertido en una virgen impura.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

#51 . MARIA MADALENA, Álvaro Feijó

I

VIVENDO

Túnica branca a roçagar, silente,
as formas gráceis do corpo leve,
desnudo o colo dum alvor de neve,
cristal o olhar tão luminoso e ardente;

Figura esbelta, fugidia e breve,
prendendo ao corpo dela o olhar da gente,
cedendo Amor, pedindo Amor crescente,
desnudo o colo dum alvor de neve.

Vivendo a lei da Vida, como a Terra
que ama a semente e no seu ventre a encerra,
a alimenta, a agasalha e a reproduz,

Lábioos sorrindo sem esgares de pena,
Deusa de Amor -- Maria Madalena
passa e, empós dela, só há rastros de luz.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

#50 - A UMA TRANÇA DE CABELOS NEGROS, Jerónimo Baía


Diversa em cor, igual em bizarria
Sois, bela trança, ao lustre de Sofala;
Luto por negra, por vistosa gala,
Nas cores, noite, na beleza, dia.

Negra, porém, de amor na monarquia
Reinais, senhora, não sereis vassala;
Sombra, mas toda a luz não vos iguala,
Tristeza, mas venceis toda a alegria.

Tudo sois, mas eu tenho resoluto
Que sois só na aparência enganadora,
Negra noite, tristeza, sombra, luto.

Porém, na essência, ó doce matadora,
Quem não dira que sois, e não diz muito,
Dia, gala, alegria, luz, senhora?