Naquela noite quente nada estremecia
E nada se agitava na rede do luar,
Naquela noite cheia de folias, havia
Um invulgar aroma retido pelo ar.
Folhagem de arvoredo doce ali dormia,
Malha de fios dourados fazem tropeçar,
Folha verde na sombra não se distinguia
E a relva do jardim varal para amar.
Festa de bacanais, prazer e regozijo,
Ostentosa riqueza, orgia até nascente,
Perturbador anseio na foz de amor ardente
Correndo palpitante em vasto esconderijo
Para gozar no tempo a vida do amor,
Para viver a vida, sem pensar na dor.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
#42 - NOITE QUENTE, Maria Campos
quarta-feira, 6 de maio de 2015
#41 - MODA, Leila Miccolis
Eu queria te ver,
coxas de fora,
(como de fora vejo teus pelos do peito
pela camisa de seda),
a andares na rua,
entre assobios e apalpadelas,
o olhar disperso
como quem nada percebe,
e mostrando ao sentares,
subindo-te a roupa,
a cueca combinando com a gravata.
coxas de fora,
(como de fora vejo teus pelos do peito
pela camisa de seda),
a andares na rua,
entre assobios e apalpadelas,
o olhar disperso
como quem nada percebe,
e mostrando ao sentares,
subindo-te a roupa,
a cueca combinando com a gravata.
terça-feira, 7 de abril de 2015
#40 - "Marília, nos teus olhos buliçosos", Bocage
Marília, nos teus olhos buliçosos
Os Amores gentis seu facho acendem;
A teus lábios, voando, os ares fendem
Terníssimos desejos sequiosos.
Teus cabelos subtis e luminosos
Mil vistas cegam, mil vontades prendem;
E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.
Reside em teus costumes a candura,
Mora a firmeza no teu peito amante,
A razão com teus risos se mistura.
És dos Céus o composto mais brilhante;
Deram-se as mãos Virtude e Formosura,
Para criar tua alma e teu semblante.
Os Amores gentis seu facho acendem;
A teus lábios, voando, os ares fendem
Terníssimos desejos sequiosos.
Teus cabelos subtis e luminosos
Mil vistas cegam, mil vontades prendem;
E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.
Reside em teus costumes a candura,
Mora a firmeza no teu peito amante,
A razão com teus risos se mistura.
És dos Céus o composto mais brilhante;
Deram-se as mãos Virtude e Formosura,
Para criar tua alma e teu semblante.
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Manuel Maria Barbosa du Bocage
quarta-feira, 25 de março de 2015
#39 - AQUELE QUE PASSA, Ada Negri
O desconhecido que passa e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos, ainda tem vinte anos a ligeira figuras deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada, em plena e soberba delícia de
[amor,
E em ti não há membro ou ponta de carne ou átomo de alma que não tenha uma marca de
[amor.
Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem, saúda a graça do deus:
Respira, passando em ti, jão não bela, em ti já não jovem, o aromo precioso do deus:
Só porque o levas contigo, doce relíquia à sombra de um sacrário.
(versão de Jorge de Sena)
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos, ainda tem vinte anos a ligeira figuras deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada, em plena e soberba delícia de
E em ti não há membro ou ponta de carne ou átomo de alma que não tenha uma marca de
Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem, saúda a graça do deus:
Respira, passando em ti, jão não bela, em ti já não jovem, o aromo precioso do deus:
Só porque o levas contigo, doce relíquia à sombra de um sacrário.
(versão de Jorge de Sena)
sábado, 21 de março de 2015
#38 - POUCO ACIMA DAQUELA ALVÍSSIMA COLUNA, Hermes Fontes
Pouco acima daquela alvíssima coluna
que é o seu pescoço, a boca é-lhe uma taça tal
que, vendo-a, ou vendo-a, sem, na realidade, a ver,
de espaço a espaço, o céu da boca se me enfuna
de beijos -- uns sutis, em diáfano cristal
lapidados na oficina do seu Ser;
outros -- hóstias ideais dos meus anseios,
e todos cheios, todos cheios
do meu infinito amor...
Taça
que encerra
por
suma graça
tudo que a terra
de bom
produz!
Boca!
o dom
possuis
de pores
louca
a minha boca!
Taça
de astros e flores,
na qual
esvoaça
meu ideal!
Taça cuja embriaguez
na via láctea do Sonho ao céu conduz!
Que me enlouqueças mais... e, a mais e mais, me dês
o teu delírio... a tua chama... a tua luz...
quarta-feira, 11 de março de 2015
#37 - POLÍTICA, W. B. Yeats
No nosso tempo, o destino do homem propõe o seu sentido em termos de política. (Thomas Mann)
Com esta rapariga ali especada
Como posso eu atentar
Em políticas romanas
Ou russas ou espanholas?
Quem fala é homem viajado
Que há-de saber o que diz,
E muito lido político
Que tudo meditou bem.
Será verdade o que dizem
De guerras e mais desgraças.
Mas quem me dera ser jovem
Com aquela nos meus braços!
(versão: Jorge de Sena)
Com esta rapariga ali especada
Como posso eu atentar
Em políticas romanas
Ou russas ou espanholas?
Quem fala é homem viajado
Que há-de saber o que diz,
E muito lido político
Que tudo meditou bem.
Será verdade o que dizem
De guerras e mais desgraças.
Mas quem me dera ser jovem
Com aquela nos meus braços!
(versão: Jorge de Sena)
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
#36 - "Amor", Ana Hatherly
Amor é fogo que arde e se vê
em ti
em mim
em tudo o que consome
Cegos
surdos
apenas te sabemos
apenas te queremos
fatal fome
em ti
em mim
em tudo o que consome
Cegos
surdos
apenas te sabemos
apenas te queremos
fatal fome
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
#35 - LESLIE -- S.O.S.!, Fernando Grade
Peço aos teus lábios carnudos que me telefonem.
domingo, 8 de fevereiro de 2015
#34 - PARFUMS EXOTIQUES, Charles Baudelaire
Quand, les deux yeux fermés, en un chaud soir d'automne,
Je respire l'odeur de ton sein chaleureux,
Je vois se dérouler des rivages heureux
Qu'éblouissent les feux d'un soleil monotone;
Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux;
Des hommes dont le corps est mince et vigoreux,
Et des femmes dont l'oeil para sa franchise étonne.
Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et des mâts
Encor tout fatigués par la vague marine,
Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l'air et m'enfle la narine,
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers.
Je respire l'odeur de ton sein chaleureux,
Je vois se dérouler des rivages heureux
Qu'éblouissent les feux d'un soleil monotone;
Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux;
Des hommes dont le corps est mince et vigoreux,
Et des femmes dont l'oeil para sa franchise étonne.
Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et des mâts
Encor tout fatigués par la vague marine,
Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l'air et m'enfle la narine,
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
#33 - AOS AFECTOS, E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM, Gregório de Matos
Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramados;
incêndio em marés de águas disfarçado;
rio de neve em fogo convertido;
tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo em cristais aprisionado;
quando cristal em chamas derretido.
Se és fogo, como passas brandamente,
se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.
pranto por belos olhos derramados;
incêndio em marés de águas disfarçado;
rio de neve em fogo convertido;
tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo em cristais aprisionado;
quando cristal em chamas derretido.
Se és fogo, como passas brandamente,
se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.
domingo, 18 de janeiro de 2015
#32 - CANTIGA SUA À DITA SENHORA, Nuno Pereira
O cuidado mui sentido
donde morte se m'ordena
é qu'haveis de ter marido
& eu sempre minha pena.
E naquisto contemplando
vai crescendo o desconforto,
que desmaio em cuidando
& caio mil vezes morto.
E fora de meu sentido
com tal morte qual s'ordena
para mim ver o marido,
sem vós verdes minha pena.
donde morte se m'ordena
é qu'haveis de ter marido
& eu sempre minha pena.
E naquisto contemplando
vai crescendo o desconforto,
que desmaio em cuidando
& caio mil vezes morto.
E fora de meu sentido
com tal morte qual s'ordena
para mim ver o marido,
sem vós verdes minha pena.
sábado, 10 de janeiro de 2015
#31 - MULTIDÃO, Ada Negri
Uma folha tomba no plátano, um frémito sacode o imo do cipreste,
És tu que me chamas.
Olhos invisíveis sulcam a sombra, penetram-me como à parede os pregos,
És tu que me fitas.
Mãos invisíveis nos ombros me tocam, para as águas dormentes do lago me
[atraem,
És tu que me queres.
De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros a loucura sai para o cérebro,
És tu que me penetras.
Não mais os pés pousam na terra, não mais pesa o corpo nos ares, transporta
[-o a vertigem obscura,
És tu que me atravessas, tu.
(versão de Jorge de Sena)
És tu que me chamas.
Olhos invisíveis sulcam a sombra, penetram-me como à parede os pregos,
És tu que me fitas.
Mãos invisíveis nos ombros me tocam, para as águas dormentes do lago me
És tu que me queres.
De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros a loucura sai para o cérebro,
És tu que me penetras.
Não mais os pés pousam na terra, não mais pesa o corpo nos ares, transporta
És tu que me atravessas, tu.
(versão de Jorge de Sena)
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
#30 - A MENINA FEIA, Armindo Rodrigues
A menina feia
Sentava-se à janela,
Mas quem vai na rua
Nem repara nela.
À noite no quarto
Despe-se a menina
Para se deitar.
Tem os seios duros
E a barriga lisa.
Mal tira a camisa
Logo o quarto fica
Cheio de luar.
E a menina feia,
Mas de corpo lindo,
Sonha que está nua
Sentada à janela,
E no meio da rua,
Com os olhos luzindo,
Os homens se matam
Por um riso dela.
Sentava-se à janela,
Mas quem vai na rua
Nem repara nela.
À noite no quarto
Despe-se a menina
Para se deitar.
Tem os seios duros
E a barriga lisa.
Mal tira a camisa
Logo o quarto fica
Cheio de luar.
E a menina feia,
Mas de corpo lindo,
Sonha que está nua
Sentada à janela,
E no meio da rua,
Com os olhos luzindo,
Os homens se matam
Por um riso dela.
domingo, 4 de janeiro de 2015
#29 - POEMA DO SEMEADOR, Péricles Eugênio da Silva Ramos
Áspera é a terra, o esforço não tem prémio,
porém, à sombra do pomar -- rubro pomar! -- dos pêssegos do sol
em ti eu vejo, ó torso
de haste, o lírio nunca ausente.
Nenhuma flor, é certo, aponta em meu caminho,
mas desde que teus seios desabrocham na aridez,
em pensamento ressuscito a graça de uma vide
ou faço resplender, à luz do ocaso,
o rosto em fogo das romãs.
Áspera é a terra:
porém quando te despes, calmo trevo,
contaminados pelo aroma de jasmins sem consistência
ergue-se no ar
um canto nupcial de pólens tontos;
e ao embalo dos astros renascendo,
eu semeador,
confiante no futuro,
lavro meu campo ensagüentado de papoulas
com touros cor de mar ou potros como luas.
porém, à sombra do pomar -- rubro pomar! -- dos pêssegos do sol
em ti eu vejo, ó torso
de haste, o lírio nunca ausente.
Nenhuma flor, é certo, aponta em meu caminho,
mas desde que teus seios desabrocham na aridez,
em pensamento ressuscito a graça de uma vide
ou faço resplender, à luz do ocaso,
o rosto em fogo das romãs.
Áspera é a terra:
porém quando te despes, calmo trevo,
contaminados pelo aroma de jasmins sem consistência
ergue-se no ar
um canto nupcial de pólens tontos;
e ao embalo dos astros renascendo,
eu semeador,
confiante no futuro,
lavro meu campo ensagüentado de papoulas
com touros cor de mar ou potros como luas.
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