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quarta-feira, 25 de março de 2015

#39 - AQUELE QUE PASSA, Ada Negri

O desconhecido que passa e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos, ainda tem vinte anos a ligeira figuras deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada, em plena e soberba delícia de
                                                                                                                              [amor,
E em ti não há membro ou ponta de carne ou átomo de alma que não tenha uma marca de
                                                                                                                              [amor.
Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem, saúda a graça do deus:
Respira, passando em ti, jão não bela, em ti já não jovem, o aromo precioso do deus:
Só porque o levas contigo, doce relíquia à sombra de um sacrário.

(versão de Jorge de Sena)

sábado, 10 de janeiro de 2015

#31 - MULTIDÃO, Ada Negri

Uma folha tomba no plátano, um frémito sacode o imo do cipreste,
És tu que me chamas.

Olhos invisíveis sulcam a sombra, penetram-me como à parede os pregos,
És tu que me fitas.

Mãos invisíveis nos ombros me tocam, para as águas dormentes do lago me 
                                                                                                [atraem,
És tu que me queres.

De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros a loucura sai para o cérebro,
És tu que me penetras.

Não mais os pés pousam na terra, não mais pesa o corpo nos ares, transporta
                                                                                 [-o a vertigem obscura,
És tu que me atravessas, tu.


(versão de Jorge de Sena)